quarta-feira, 31 de março de 2010

Mark


Na verdade, ela disse a Mark que nunca mais queria vê-lo. Aquilo bastava. Era desesperador pensar que poderia sentir a mesma coisa que sentira antes, então preferiu o esquecimento do que as mentiras enganadoras que sua cabeça oca lhe causava. Sentiu saudade da companhia, nada além disso, nada além do contato humano mais próximo que poderia ter tido com alguém. Isso fez seus ouvidos sangrarem por alguns minutos, porém, sem dor. O sentimento que lhe surgiu de início foi pena. Um sentimento desconfortante e infeliz, penso. Sua experiência durou pouco tempo, sorriu, sentiu carinho e preocupação por quem não conhecia pela primeira vez. Depois tudo isso se tornou ridículo e pessoal. Em seguida, conheceu a raiva,e doendo ou não, o ódio brotou em seu sensível mas forte coração.

Ps: Seu coração era o mais frio já existente.

Ela não entendia as relações humanas e como deveriam funcionar. Não sabia o que era se sentir empolgada – na verdade ela sabia, mas não o usava ( a empolgação) nos devidos momentos tradicionais ditos corretos pela sociedade. A questão é que o que ela sentiu - o pouco que sentiu, que pensou sentir – não se encaixava e foi transformado em raiva naturalmente, e aumentava assim que os dias –longos dias – passavam. No final das contas não acreditou mais em relações boas. Por um segundo pensou em Mark, logo, desistiu de pensar e confiar.

terça-feira, 30 de março de 2010

- E de toda minha insanidade, a coisa mais insana sou eu -

Acordei refletindo no espelho a imagem de quem eu fui, não gostando do que via – tentei quebrá-lo com os punhos de minhas pequenas mãos. Cacos pelo chão de um quarto escuro, impossível de enxergar a própria áurea. Com o sangue saindo dos punhos, já quase secos – me deitei ali mesmo no chão. Numa fração de segundos, sai de mim, sai do que eu poderia ser – meus pensamentos ficaram no ar, naquela brisa que mais parecia uma fumaça de alguém gritando socorro, sem antes me ver.Fechei meus olhos, molhados com o vento, sem me dar conta, me vi em um cenário novo e perturbador. Eu mesmo.Meu corpo gélido, engolia o que podia, uma forma de expressão mal calculada da sujeira, uma forma de arrependimento sem antes odiar a dor causada. Ali parada, quis pensar no “nada” visto que logo, estaria pensando em algo, mesmo sem ter um sentido aparente. Estupidamente fria, arrogantemente imóvel no chão, feito lagosta mal consumida pelo desejo do anfitrião.
- Gosto ruim! – alguém dizia.
- Não tem desejo, muito menos sedução!

E não é que aquela alma perdida sabia, sabia que aquele gosto me perseguia, deixando meu hálito cauteloso. Porém minha pele, suave pele, se aquecia a cada toque desejado por aquelas mãos cujo carinho me ofereceu. Eu podia sentir cada suspirada que meu amado dava, cada gesto que fazia com amor e tanto cuidado, como se fosse algo prestes a se quebrar – e talvez fosse mesmo.Falso é aquele amor que flui com tanta rapidez, logo dizendo “eu te amo” sem saber como se deveria amar. Falso porque com a mesma facilidade que se ama, deixa a pessoa sozinha sem satisfação. Bonito e valorizado é aquele amor antigo, daquelas épocas de batalha, de tradição e conflito. Onde o rapaz fazia de tudo e enfrentava toda a sua família e os princípios ditados na sociedade para conquistar a bela e simples donzela. Esse sim, é amor dito como verdadeiro e honesto – difícil de ser conquistado mas nunca esquecido ou deixado de ser amado. Amor que vem fácil de mais é sentimento duvidoso, ardente e cruel. Amor tem que ser calmo, doce e sereno. Tem que ser cúmplice do seu próprio eu, tem que ser cultivado e amado, cuidadoso e conquistado a cada dia. Não se constrói uma bela história sem as dificuldades vividas, sem as tentativas e as expectativas sobre algo. Tem de ter sangue para se obter o verdadeiro e puro amor. Necessitamos disso e isso basta.